quinta-feira, 4 de outubro de 2012

É um olhar que tem muito de patrimonial, de registo, nele se resguardando, qualquer excesso de imaginação.
Registo de arquitecturas chãs, rurais, de materiais pobres, ancestrais como a pedra, e a madeira.
Nelas se guardavam e resgurdavam do imenso mundo, as gentes sempre tímidas dos poderes apenas pressentidos, as vagas de imigração haviam de os aproximar das metrópoles proletárias  deixando abandonadas aldeias e espaços.

A concepção do mundo como imagem, o museu imaginário

A fotografia é filha da ilustração, do desejo de saber e de partilhar esse saber, através de meios de comunicação mais eficazes, mais universais. A atenção oferecida ao daguerreótipo pelos artífices  pré-industriais, fazendo das primeiras provas relíquias, tesouros estéticamente dignos, como tinham sido os melhores desenhos ou pinturas, elevando assim a dignidade do objecto. Reproduzindo de forma esplêndida o verosímil, de espanto, pela representação de um real optimista, com um rigor técnico minucioso, embora espontâneo, na saga de encurtar e colecionar o mundo.
A fotografia acumula-se em camadas, mantém a trama do antigo e do moderno, de permanência e de progresso. Necessáriamente epocal evolui a partir  das aspirações desmedidas do meio artistico, a câmara escura.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

 
São as caracteristicas da câmara, a sua estética funcional que caracterizam a especificidade da fotografia. A adaptação do utensílio ao orgão humano. A suspenção do real e descrição da consciência.
A tecnologia a certeza mais visível, os não lugares, a fantasmagoria, os rituais e ocupação do espaço, aqui ainda longe, muito longe.
Aqui o esteticismo ainda não está generalizado como norma. A arte ainda não tende a situar-se como ornamento de uso, quotidiana e democratizada, longe da sociedade do computador doméstico.
Uma só imagem fotográfica, o que se pode saber sobre o que vemos, primeiro o fotógrafo, a seguir o objecto captado, o local geográfico, quem nela figura, a provável data.
A construção duma casa, uma família, se este é um momento no tempo, talvez fundador, uma parte do sentido fica oculto na aparente evidência, congelada.



Aqui estamos de novo,  através destas seis imagens, revisitando os anos sessenta, nas aldeias remotas, ou nas cidades de provincia.
E se nos adros das igrejas se compoêm algumas estruturas degradadas, é sobretudo na desertificação anunciada, que se faz sentir o pathos, os dias de lazer, as mulheres e as crianças, o público e o privado. A arquitectura como pano de fundo, duma sociologia há muito alterada.