terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Teaser "arquivo da memória na misericórdia do convento de N.Sra. da Estrela de Marvão", acção comunitária intergeracional.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

"falar um pouco sobre jardins e mesquitas, e de arabescos"

(texto de apresentação lido na inauguração da exposição de pintura e desenho, "as árvores do muladi, em Marvão, no dia 1 de Fevereiro de 2014)


  Convido-vos a entrar pela porta do deserto, a seguir o óasis, onde se encontram o repouso dos olhos e a paz da alma, o jardim e a mesquita.
 Em Árabe as duas ideias andam de mãos dadas, em Medina a mesquita onde o Profeta está enterrado tem o nome de rawda, o jardim.
  No al-andaluz hispano árabe, que integrava também a zona onde se encontra Marvão, a tradição do jardim era a de um lugar de devaneio, que nos transporta para fora do mundo, e se tem as mesmas árvores e flores que os nossos (de tradição ocidental), difere contudo totalmente destes.
  No jardim clássico  que começa com o império romano e continua com os Médicis e Luís XIV, o objectivo era dominar o mundo a partir de um ponto de vista central, grandes perspectivas até à linha do horizonte, lagos de água a reflectir a lonjura, enquadramentos de árvores, conduzindo o olho à descoberta de toda a região circundante.
  Pelo contrário no jardim moçulmano, (não esquecer que Ib Marwan, como rebelde, e mestiço de cultura, circulava entre os dois mundos), a primeira coisa que importa é isolar o jardim dos olhares exteriores, para isso servia o muro, ou cerca, em vez do interesse pela visão periférica, tudo se concentra no centro, no quiosque.
  Os motivos dos arabescos, que aqui também focamos, são as formas geométricas, deste modo encontramos polígonos cruzados, arcos de circulo com raios variáveis, o arabesco é essencialmente uma negação indefenida de formas, que nos proíbem de contemplar, como fazia o pensamento grego, a beleza de um círculo em si mesmo, ou um pentáculo mágico e planetário.
 Ainda encontramos o mosaico e a tapeçaria que tão bem convivem com esse princípio estético fundamental. Canteiros de flores e animais hieratizados, o grifo e a fénix.

  


terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

"as árvores do jardim do muladi"

(adenda à exposição, com proposta de leitura e interpretação das obras apresentadas)


  Uma exposição de quatro amigos, com formação em artes plásticas, na ESBAL, que aproveitam assim para assinalar essa condição, exibem aqui pinturas e desenhos, sobre a imaginária e fictícia necessidade de plantar um jardim dentro das muralhas de uma fortaleza, no "meu monte", como gostava de pensar Ibn Marwan o fundador de  Marvão.
 São pinturas e desenhos que partem da exploração de "lugares comuns", jogando com a dupla metáfora, natureza versus arte.
  Ensaiam uns a via ligada, à já longa linha que atravessa o paisagismo, ou (ar livrismo do séc. XIX), e caminhos do séc. XX, Maria Ribeiro Telles, outros simulam iconografias científicas, (caso da árvore da vida, os pulmões), Maria João Mira,outros o "desenho", (de escultora),  volumétrico e modelado, Maria João Saraiva, ou por fim a (forma digital de desenhar ou  pintar), Délio Abrantes, cruzando várias influências e sentidos plurais.
  Regando e cuidando do jardim em Marvão, até 30 de Março, quando a primavera já estiver a fazer as árvores florirem.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

As teorias do jardim


(adendas à exposição "as árvores do jardim do muladi", Ibn Marwan quer plantar um jardim, mas parte duma ideia, não da simples natureza)

  As teorias do jardim devem libertar-se da questão mal colocada e preconceituosa  da autonomia do jardim como forma de arte autónoma. Esta é uma variante da inaceitável distinção entre artes maiores e menores.
  A relação entre as teorias da pintura e da arquitectura com as do jardim, são um ulterior motivo de interesse na composição, variável consoante as épocas, da história do gosto.
  Com F. Bacon (of gardens, 1625) por exemplo, defende-se um jardim livre de restrições e geometrias, com a moda do jardim paisagístico inglês no séc XVII, o jardim assume um papel fundamental na história do gosto.



domingo, 9 de fevereiro de 2014

Marwan his life and his path


Sê um amante e mantêm-te 
afastado do remorso, tu és
o filho de Al´liqui, o galego,
quanto tempo vais manter-te
escravo deste mundo?

Não menosprezes 
a tua vida sem o amor,
não pense que já viveste
essa parte, o amor é a 
água da imortalidade,
aceita isso com prazer
aprende que tudo
sem o amor,
é como um peixe 
fora de água.

(pensava Ibn Marwan, sentado no seu jardim)

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Jardim, teorias do


  Nas estéticas do séc. XIX, quando se sistematiza o sistema das artes, ao jardim cabe um papel subalterno, é uma arte menor por aplicar princípios oriundos de outras artes como a pintura e a arquitectura.
  Kant considerava o jardim como »a arte de compor de modo belo os produtos da natureza», orientado para a harmonização, e jogo livre da imaginação, entre o ar e a água, entre a luz e sombra.
  A inspiração tanto pode vir da arquitectura, como no caso do jardim geométrico à francesa, como em princípios pictóricos, como nos jardins naturais à inglesa.
  O jardim à inglesa não é mais do que uma pintura de paisagem com objectos reais.
  Claude Lorrain e Nicolas Poussin, criaram um novo gosto na arte dos jardins, o jardim não é um modelo para a pintura mas sim um produto dela.
  Para George Lukás, a sua reflexão estética coloca o jardim entre as «questioni marginali della mimesi estetica».
  Para se conhecer o conceito de jardim no Oriente e na antiguidade temos as fontes literárias e iconográficas.


  

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014



Para vos fazer partilhar da surpresa e do fascínio que se sente ao entrar na atmosfera da cultura muçulmana pela porta do deserto africano e al andaluz, visitemos em primeiro lugar o oásis, o jardim.

Capa, e se o paradizo fosse uma tapeçaria, ou uma caligrafia fina feita de arabescos, uma geometria, uma palavra apenas.
Outra árvore do jardim do muladi, Maria João Saraiva, para ela, como para nós, a oliveira, árvore algo triste, porque milenar, contorcida, fendida, deixa ver entre os buracos, fragmentos de paisagem. Do seu fruto nasce a "luz sobre a luz", o azeite.
Uma das árvores do Jardim do muladi, Maria Ribeiro Telles, com uma entrada serena numa das portas do paradizo, ao fundo uma cidade (?), talvez um monte, "o meu monte", como dizia Ibn Marwan, o fundador de Marvão.


"as árvores do jardim do muladi"


"Estar no mundo mas não ser dele"

filosofia Sufi


 Ibn Marwan al-yil´liqui, (filho de João o Galego), muladi, (renegado), conhecido pela sua crueldade e astúcia, estava por fim, cansado das guerras incessantes, travadas contra o emir de Córdova.
 Sentado nas muralhas do seu castelo, notou entristecido, que, dentro deste, só  havia pedras, nem uma sombra gentil de árvore, nenhum fruto, nenhuma brisa fresca e perfumada, nenhum gracioso rumor de água.
 Assim, lhe surgiram naquele dia as memórias da sua infância, quando corria entre o labirinto de bucho e a sombra das laranjeiras, dos damasqueiros, oliveiras, romanzeiras e palmeiras, no jardim em que jogava às escondidas, fugindo das concubinas do seu pai, recordações da alcáçova, e do som harmonioso da música e poesia.
 Quão longe estava, marcado pelas necessidades da guerra e dos interesses, sentia em si a inutilidade frívola de tudo, e tinha saudades das mil e uma noites em que algum daqueles poetas, lhe tinha falado no Paradizo, jardim murado, onde crescem as árvores por entre as fontes, e a beleza uma promessa de felicidade.
 Foi assim que decidiu plantar um jardim, com lugar para cada espécie de árvore, e entre a folhagem ouvir ora o chamamento do maulide, ou o canto chão, sem neles diferenciar a voz divina, e sem intermediários, em paz.

 Délio,...  (escrito para a exposição em Marvão, entre 1 de Fevereiro e 30 de Março de 2014).