"E o seu triunfo foi mesmo até à criação do Museu José Malhoa, na sua terra natal, ainda em sua vida em 33."
José Augusto França, no seu A ARTE EM PORTUGAL NO SÉCULO XIX, segundo volume, numa nota sobre o museu não faz referência a(o) arquitectos autore(s) do projecto, Eugénio Corrêa,(1898-1987), e...Paulino Montez.
Eugénio Corrêa nasceu em Sintra em1898, estudou arquitectura em Lisboa, na ESBAL.
Um primeiro projecto em Chaves, uma pequena casa, hoje património municipal, outro a sua própria casa de família, modesta casa, de única divisão e ampla varanda sobre a várzea e o rio Tâmega.
Foi director da SNBA, nos anos da segunda guerra, foi promotor da exposição de Arte Alemã, que trouxe a Lisboa a visita de Albert Speer, arquitecto do Reich, cuja agenda incluía uma visita ao Terreiro do Paço, e outros pontos da cidade.
Após a natural polémica suscitada pela exposição alemã, promoveu a congénere de Arte Britânica, que deixou sanada (?), a neutralidade oficial portuguesa.
Desenhou o bairro dos pescadores de Olhão, em Pegões a Igreja, com sua cobertura ogival e assumido sentido estético modernista, outra Igreja em Sesimbra, na planície defronte ao castelo e o museu Malhoa.
Foi inspector das obras públicas no Estado Novo. Membro da Academia de História e da Academia de Belas Artes.
Em 1978, inscreveu a aldeia do Piódão como aldeia histórica, de interesse público, e procedeu à sua electrificação pública e saneamento básico. Em Arganil desenhou a rede de esgotos.
Na pág. 298 nota 808, " ver António Montês, «Como se faz um museu - o Museu José Malhoa nas Caldas da Rainha» (dissertação para exame final de Conservador dos Museus, 1946). Foi inaugurado em 28/4/1934, no aniversário do nascimento do pintor, falecido em 26 de Outubro anterior. Ali foi comemorado o centenário do nascimento de Malhoa, em 1955, com uma grande exposição de homenagem. Por seu lado, na comissão nacional de 1928 contou-se o ministro Duarte Pacheco, republicano afecto à Ditadura, o monárquico Jorge Colaço e o Prof. Egas Moniz, figura da oposição."
E ainda se engana, quando diz ter sido inaugurado em vida do pintor, em 33, quando esta foi em 34, como na nota citada se escreve.
Porque foi um projecto museológico pensado de raiz, e não uma instalação que aproveitasse um convento, ou outra pré-existente edificação, como foi sempre a opção encontrada em Portugal até ai, e por ser por isso mesmo caso único, julgo merecer uma mais desenvolvida atenção.
Por outro lado NO CENTENÁRIO DE MESTRE JOSÉ MALHÔA, Caldas da Rainha, 1955, exposição homenagem, também não se dá conta nem da autoria do edifício museu, nem do seu particular pioneirismo modernista, no panorama museológico nacional.
Nas actuais brochuras no museu, bem como no site oficial do mesmo, também não se refere essa peculiar raridade, que é a de um projecto arquitectónico, destinado a albergar obras do naturalismo português, com vários autores, pintores e escultores, e com um arranjo de espaço exterior ajardinado e destinado a recolher umas quantas peças de escultura, ter sido integralmente "pensado", nesse ano longínquo de 34.
Realça-se assim a vontade modernista do arquitecto, expressa nas linhas "clássicas", da colunata da entrada, que contrasta com o seu interior, inteiramente modernista, no tratamento da luz, inovador "para a época", luz equilibrada e dirigida, na sua relação funcional, destinada a espaço expositivo, de protecção da pintura, realçando a sua pública fruição.
Sendo por isso um caso único em portugal, onde só nos nossos dias encontramos, o espaço do museu, enquanto lugar pedagógico, não confinado simplesmente a essa função restrita, mas acrescentando "algo mais", à interpretação actualizada das obras, à sua hermenêutica.