quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

"falar um pouco sobre jardins e mesquitas, e de arabescos"

(texto de apresentação lido na inauguração da exposição de pintura e desenho, "as árvores do muladi, em Marvão, no dia 1 de Fevereiro de 2014)


  Convido-vos a entrar pela porta do deserto, a seguir o óasis, onde se encontram o repouso dos olhos e a paz da alma, o jardim e a mesquita.
 Em Árabe as duas ideias andam de mãos dadas, em Medina a mesquita onde o Profeta está enterrado tem o nome de rawda, o jardim.
  No al-andaluz hispano árabe, que integrava também a zona onde se encontra Marvão, a tradição do jardim era a de um lugar de devaneio, que nos transporta para fora do mundo, e se tem as mesmas árvores e flores que os nossos (de tradição ocidental), difere contudo totalmente destes.
  No jardim clássico  que começa com o império romano e continua com os Médicis e Luís XIV, o objectivo era dominar o mundo a partir de um ponto de vista central, grandes perspectivas até à linha do horizonte, lagos de água a reflectir a lonjura, enquadramentos de árvores, conduzindo o olho à descoberta de toda a região circundante.
  Pelo contrário no jardim moçulmano, (não esquecer que Ib Marwan, como rebelde, e mestiço de cultura, circulava entre os dois mundos), a primeira coisa que importa é isolar o jardim dos olhares exteriores, para isso servia o muro, ou cerca, em vez do interesse pela visão periférica, tudo se concentra no centro, no quiosque.
  Os motivos dos arabescos, que aqui também focamos, são as formas geométricas, deste modo encontramos polígonos cruzados, arcos de circulo com raios variáveis, o arabesco é essencialmente uma negação indefenida de formas, que nos proíbem de contemplar, como fazia o pensamento grego, a beleza de um círculo em si mesmo, ou um pentáculo mágico e planetário.
 Ainda encontramos o mosaico e a tapeçaria que tão bem convivem com esse princípio estético fundamental. Canteiros de flores e animais hieratizados, o grifo e a fénix.

  


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