segunda-feira, 1 de junho de 2015

Sobre a neutral leitura do discurso fotográfico

O significado de uma fotografia, como o de qualquer outra entidade, está inevitavelmente ligado a uma definição cultural, um «discurso fotográfico»
Nespereira (de Vobulide)
O  meta discurso imanente a uma fotografia, o «discurso da fotografia», nunca é inocente, neutro ou claro, está por assim dizer, num plano recuado ao da imagem, e remete sempre para uma cultura antropológica definida. Trata-se sempre de um intercâmbio de informação e tem os seus "limites", num campo delimitado de expectativas partilhadas no que se refere ao seu significado. Todo o discurso é por isso tendencialmente uma manifestação de interesses. Esses interesses competem uns com os outros. Devia-mos colocar-nos fora duma  noção utópico-liberal, de um intercâmbio de informação desinteressado ou meramente académico. A maior parte das mensagens enviadas para o domínio público numa sociedade industrial, é emitida na voz de uma entidade anónima num tom que exclui à partida outra possibilidade que não seja a afirmação. A discussão em torno da fotografia é tudo menos aberta à reacção popular, isto ao mais alto nível, hermético, como ao nível do senso comum. As coisas processam-se em grupos de elite legitimadora ou então na avassaladora aparência do simulacro para consumo imediato, não há meio termo aqui. Podemos então dizer que o discurso se processa numa função retórica, que determina o seu alvo semântico. O significado último duma fotografia é determinado pelo seu contexto, uma fotografia comunica através do seu texto oculto, ou implícito. A literacia em relação a uma fotografia aprende-se, e no entanto, no mundo real, a imagem perece sempre «natural», longe duma afirmação ideológica mera representação da realidade ela mesma.

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