A fotografia surge a partir da sua antepassada oriunda do meio artístico a câmara escura, mas ao contrário desta é sobretudo o resultado técnico dos conhecimentos recém adquiridos no meio científico, a química, que Lavoisier tinha consagrado no séc. XIII. É filha da ilustração e do desejo de conhecer e partilhar democraticamente o saber através dos novos meios de comunicação, os jornais e revistas, mais eficazes a difundir esses conteúdos universalmente.
É por isso filha da modernidade e do positivismo materialista, da (Filosofia da história natural de Augusto Comte, 1839), e do apoio imediato ao controlo social, tão bem entendido pela polícia de Paris, que se apressa a solicitá-la como forma de registo e catalogação dos criminosos e marginais.
As primeiras provas foram contudo, por serem objectos únicos, verdadeiras caixas de jóias ou livro raros, relicários portáteis.
A fotografia surgia assim no terreno do desenho e pintura cuja representação do real verosímil, era agora por ela contestado, na sua vocação para o fixar definitivamente no suporte de papel ou chapa, mas de forma mecânica. Sem contudo ter deixado de evocar o espanto e fantasmagoria, na sua milagrosa aparição pública.
Mas seria na sua capacidade para o stock ilimitado ou inventariação do mundo, que ela se haveria de afirmar, o museu imaginário de que falava Malraux. A par da televisão, do video e da internet, com as quais partilha imagens fixas, tornou-se na sociedade global uma das chaves da identidade do conceito do mundo como imagem ou representação. A sua glória ao impor uma cultura do efémero, num universo de substituição do mundo real, devolvido em diferido, mundo real que ajudou a conhecer e fragmentar.
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