Entre fotógrafos e admiradores corre o comum entendimento de que a fotografia é um medium em que a escrita crítica é escassa.
Muitas vezes esses escritos são feitos muito colados a uma abordagem da história de arte convencional. São igualmente raros os esforços para tratar a sua evolução, as suas implicações sociais e culturais, igualmente as suas relações com as outras artes e a grande variedade de papéis que a fotografia desempenha.
Isso talvez se deva ao pressuposto que a fotografia é unitária, que se trata de um único método de obter imagens.
Na verdade a fotografia tem práticas muito variadas, e estas estão certamente inseridas nas estruturas sociais em que surgem.
Há assim a falta duma história das ideias acerca da fotografia, é no entanto possível documentar um registo de pensamento acerca deste meio.
Foi nas revistas do séc, XIX que surgiram de forma embrionária a necessidade de pensar o novo meio, que era a fotografia e a Camera Work de Alfred Stieglitz foi seminal nesse papel.
Essa reflexão sobre fotografia fez-se nas sociedades ocidentais (França, Inglaterra, Alemanha e Estados Unidos). Em Portugal isso não acontece, e embora a notícia da sua invenção esteja muito próximo do anúncio feito em França na câmera dos deputados por Arago em 3 de Junho de 1839,
(há quem aponte a 7 de janeiro do mesmo ano),uma das primeiras referências da sua "invenção" surge pela pena de António Feliciano de Castilho, que curiosamente era cego, na cronica "Luz pintora" na revista Universal Lisbonence.
Quando surge a fotografia em 1839 (a primeira fotografia conhecida terá sido feita uns anos antes), vivia-se uma época de transformações constantes na sociedade ocidental, a «idade da revolução». Os primeiros textos de Niépce, Daguerre, Arago, Talbot, Eastlake, Poe, Baudelaire e Holmes devem ser lidos à luz desses vertiginosos acontecimentos. Industrialização, aparecimento do caminho de ferro, migração de populações rurais para as grandes metrópoles, estratificação social em grupos de operários, comerciantes, profissões liberais, e um restrito número de magnatas industriais.
Os primeiro termos do debate em torno da fotografia eram idênticos ao de outra qualquer imagem, a diferença residia, em comparação com a pintura, na rapidez e verosimilhança. A observação repetidamente enunciada pelo pintor francês Delaroche «a partir de hoje a pintura está morta» significava que surgira uma máquina capaz de realizar quanto ao pormenor o que tinha exigido um trabalho de longa prática de habilidade manual, na relação olho cérebro.
A questão que se colocava desde logo era se se tratava de "arte", ou se pelo contrário era unicamente um processo meramente mecânico, destituído por isso, de uma verdadeira intencionalidade estética.
Assim o patamar seguinte de discussão fez-se sobretudo em torno desta questão, e complicou-se bastante nos anos seguintes, Robinson, Emerson e Stieglitz, são os seus principais protagonistas.
A ideia de cultura em torno do debate sobre fotografia fez-se em redor do conceito de "trabalho" versus "arte", e teve lugar num ambiente fortemente marcado pelos "ideais vitorianos", e por preconceitos de classe e divisão social.
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