Estas duas fotografias a primeira de 1950, a segunda de 1946, foram tiradas pelo fotógrafo Augusto Cabrita, que teve um estúdio fotográfico aberto no Barreiro. Após a sua morte passou para o filho, que mantém as portas abertas, na rua Dr. Eusébio Leão, nº 20, sendo por isso o estúdio mais antigo da cidade.
Augusto Cabrita, (1923/1993) era natural do Barreiro, foi além de fotógrafo conhecido, director de fotografia e realizador de documentários cinematográficos. Autor de capas de discos de Amália Rodrigues, Simone de Oliveira, Carlos Paredes e Luís Góis. Realizou a reportagem da vinda a Portugal da rainha Isabel II. Realizou nos anos 60 do século passado, documentários para a então jovem RTP, onde conhece Fernando Lopes, por ele convidado a dirigir a fotografia do filme Belarmino (1964). Foi um grande amante de jazz, frequentador assíduo do Hot Club, e ele próprio tocava piano e falava francês. Outro grande fotógrafo Gerard Castello Lopes foi também um admirador de jazz, sendo um dos fundadores do Hot, evidenciando assim a ligação da fotografia à música.
No 2º salão Nacional do grupo desportivo da CUF, um salão de fotografia, começou em 1952 só para associados e que se torna internacional em 1955. A página mensal "fotografia" publicou-se entre 1954 e 1957 no Jornal do Barreiro que tinha tido a iniciativa de organizar um primeiro salão em 1950 de "Arte Fotográfica" com o nome de Eduardo Harrighton Sena,(foi director do Foto Clube 6x6 de 1956 a 1959) premiou Adelino Lyon de Castro e Augusto Cabrita.
Augusto Cabrita não pode ser considerado um neo-realista pura e simplesmente, a sua fotografia "directa" assumia um certo tom melancólico e romântico, sublinhado nas suas fotografias dos moinhos de Alburrica e nas do "cerco", pesca artesanal ai praticada, e de que eu próprio ainda me lembro, na maré baixa os pescadores "camarros" montavam o cerco com estacas de madeira onde se prendiam as redes finas num rondó circular. São também muito conhecidas as suas fotografias da estação sul e sueste, com o seu ininterrupto movimento de pessoas e camionetas de passageiros, e ainda as suas fotografias da zona industrial da CUF. A sua obra foi sempre pautada por um raro sentido estético e forma de olhar individualizada, assumindo uma modernidade tardia em Portugal, onde não havia mercado de fotografia, e imperava o espírito salonista, mais ou menos conivente com a "política do espírito" do Estado Novo.
Nos anos oitenta, quando eu voltava para o Barreiro de barco, nas últimas viagens do horário diário, por volta das duas da manhã, encontrava o "mestre", como era conhecido e como o tratavam, de cigarro entre os dedos e muitas vezes envolto numa ou duas máquinas fotográficas a tiracolo, era muito simpático, e os seus olhos irradiavam uma grande vivacidade, fruto da sua curiosidade insaciável.
Nota de rodapé: As duas fotografias são de minha mãe, que teria cerca de 22 anos na primeira e 18 na segunda, quando se fez retratar.
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